#18 Começando do começo: o pré-flop

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Uma reflexão sobre a parte primordial e inicial do Poker

Quase dois meses depois, estamos de volta com a nossa newsletter semanal. Estes últimos meses foram intensos por aqui, com muita produção de conteúdo para a Comunidade Viver de Cash e os demais projetos da Metagame; mas já era hora de retomar este envio de-mails da Viver de Poker! (Vale ressaltar que mesmo com a pausa nos e-mails, a comunidade Viver de Poker no discord, 100% gratuita, continua a todo vapor! Se você ainda não faz parte, clique aqui para entrar!)

Então vamos ao que interessa…

Se você está começando no Poker e quer entender a lógica básica por trás desse jogo maravilhoso, essa é a hora! Com este post quero te fazer refletir – como eu refleti a algum tempo atrás – sobre a parte primordial e inicial do Poker: o pré-flop.

Contamos hoje com diversas charts de pré-flop e, por isso, podemos simplesmente decorar uma tabela e sair jogando. Mas se não entendermos muito bem o que estamos fazendo, não conseguiremos fazer os desvios necessários, nem entender a lógica do jogo.

Se você já joga, possivelmente já entende as mãos que temos que abrir raise pré-flop e já não dá limp. Mas você já se perguntou o porquê disso? Pois eu sim. E foi pensando nisso que eu comecei a minha trajetória nos cash games. 

Por isso eu quero que você conheça a minha trajetória e se coloque no meu lugar para entender bem esse conceito FUNDAMENTAL que vai te ensinar muito sobre todo o jogo do Poker daqui pra frente.

É novembro de 2015 e faz 10/11 meses que eu comecei a minha carreira como profissional jogando torneios. Nessa jornada – da qual eu sou extremamente grato – eu aprendi muita coisa prática e fui aplicando. Eu comecei em janeiro de 2015 jogando ABI 2 (ABI = average buy-in: medida que define qual a média dos valores das suas inscrições nos torneios) e nessa altura eu já jogava ABI 25. Meu backer precisou do dinheiro que ele investia em mim e o nosso vínculo iria se encerrar. Foi então que eu decidi migrar para os cash games.

Torneio é muito baseado em um bom pré-flop, mas existe a eliminação e o fato de que as blinds vão aumentando e as médias de stacks vão ficando cada vez menores; o que não acontece nos cash games.

Fiz algumas sessões de NL2 e me senti totalmente perdido. Não tinha para onde eu correr, não tinha blind aumentando para eu ficar short stack e começar a dar re-steal; era um inferno. Toda hora eu tinha 100 blinds e tinha que jogar pós-flop todas as streets. Isso então me fez refletir: quais ranges eu jogo aqui? Por quê? E eu fui atrás de informação. O livro Applications of NLH do Matthew Janda ensina tudo isso de uma forma espetacular e me ajudou a construir algumas planilhas para entender a lógica daquele jogo, que eu vou resumir para você aqui.

Naquela época, sem solvers de pré-flop, eu não tinha como saber, de antemão, quais seriam os ranges de open raise ideais, nem quais sizings fariam mais sentido e se deveria ter limps – por mais que o livro Mathematics of Poker fale muito sobre isso -, então comecei com um range usual que eu já sabia que fazia algum sentido; e o mais bonito de tudo isso está no que vem depois, então vamos lá!

Comecei com o conceito de ranges POLARIZADOS, que é o seguinte: meu adversário deu um raise com tal range. Agora eu preciso escolher considerando:

  • Primeira premissa: nosso oponente nunca pode estar apto a profitar “blefando” quaisquer duas cartas. (Ainda falarei mais sobre isso por aqui, sobre GTO e sobre o conceito de ser inexplorável). – MDF – Minimum Defense Frequency.
  • Segunda premissa: todas as mãos que nós PAGARMOS devem profitar; ou seja, ter EV bem próximo, mas maior do que zero. Se não fizermos isso deixamos de ganhar EV – um EV pequeno, mas deixamos.

Como decidir isso?

A pior mão dos ranges de 3-bet “bluff” e 4-bet “bluff” devem ser breakeven. Isso significa que meu adversário tem aquele leque de mãos e se ele aposta 2.5 blinds no pré-flop eu tenho uma relação quanto a isso.

Vamos imaginar que meu adversário está no UTG e eu no botão. Eu preciso investir 2.5 para ganhar (2.5 + 0.5 + 1), certo? (Por enquanto vamos ignorar o fato de o small ou o big poderem entrar na mão para manter as coisas simples, pois eu quero que você entenda o conceito). Fazendo as contas: eu preciso ter 38,46% de equidade contra o range do meu adversário.

Usando um software simples (Poker Stove ou Equilab) é possível colocar certos combos de mãos versus os ranges e saber o quanto essas mãos têm de equidade versus o range do vilão. Foi assim que eu comecei a construir esses ranges.

Basicamente, para dar um call pré-flop você precisa:

1- Saber as odds que você tem;

2- Saber quanta equidade essa mão tem contra esse range;

3- Saber o quanto a sua mão “realiza” dessa equidade.

Este é um fator a mais e que é CRUCIAL no Poker, e eu só fui entendê-lo nessa época – alguns bons meses antes do Piosolver lançar o seu solver de pré-flop, mas quando já havia uma função de script que conseguia nos dar o quanto certas mãos realizam de equidade – e foi aí que eu tive um dos maiores a-ha moments da minha curta carreira: existe realização de mais de 100% de equidade.

Você pode ver nas planilhas que eu criei que há um pré e um pós Piosolver. No pré eu separava as mãos por grupos e estimava uma certa realização de equidade que elas fariam (para isso eu me baseei em alguns instrutores mais experientes que falavam sobre), e depois eu consigo esses números no próprio Piosolver!

Então eu consegui separar de uma maneira aproximada o quanto aquelas mãos realizariam de equidade para ver se eu estaria apto a jogá-las!

Hoje em dia, com os solvers, conseguimos realmente ver o quanto elas realizam se comparando um jogador GTO versus outro jogador GTO. Mas, spoiler alert, na prática isso vai ser diferente! 🙂

De maneira resumida, a lógica geral é:

  1. Eu 3-beto mãos que eu posso dar all-in pré-flop;
  2. Eu 3-beto mãos que vão dominar o seu range de call;
  3. Eu pago todas as mãos que são lucrativas.

Mas e agora? Se eu começasse a só 3-betar mãos boas, meu adversário não precisaria me pagar. Aí veio a necessidade dos blefes.

Descobri a relação desses blefes quando comecei a pensar na relação matemática que isso traz. Eu precisava começar a 3-betar (quando eu penso em construção polarizada) mãos que formariam a minha parte de blefes e mãos que eu não conseguiria dar call de maneira lucrativa em um raise pré-flop do adversário.

Mas aí veio outra pergunta: quantas combinações de “blefe” eu precisaria?

Antes de desenharmos um range de 3-bet, nós devemos saber o quanto alguém que abre um raise deve DEFENDER contra uma 3-bet. É o conceito de MDF.

Suponhamos que um jogador aplique uma 3-bet de 9bbs num open de 2.5bbs. Ele arrisca 9bbs para ganhar 4bbs (2.5bbs + os blinds). Deve funcionar 9/13* por volta de 70% das vezes (69,23%) – obviamente isso mudará caso as 3-bets venham dos blinds.

*o 13 vêm do 9+4.

Sabendo que nosso oponente precisa que a gente folde mais do que 70% das vezes para mostrar um profit imediato, nós somos OBRIGADOS a defender pelo menos 30% das vezes.

Quando defendemos de call ainda jogaremos o pós-flop e deixaremos de realizar equidade com algumas mãos; então essa conta da maneira polarizada deve se estender para somente 4-bets.

Com mais pessoas na mesa podemos defender um pouquinho menos, pois nossos oponentes às vezes darão Cold 4-bet.

Se nós só foldarmos ou jogarmos de 4-bet, devemos 4-betar exatamente 30% das vezes. Isso fará com que nosso oponente fique breakeven com as 3-bets bluffs dele, o que é o nosso objetivo.

Se ele está 3-betando demais, podemos explorá-lo também 4-betando demais. Se ele está 3-betando menos do que deveria, podemos explorá-lo nunca 4-betando por blefe. Lembre-se: o GTO SEMPRE profita contra uma estratégia não-GTO, por mais que menos do que a explorativa.

Isso não nos diz nada sobre como nossos ranges de open deveriam ser, só nos diz que nós devemos defendê-los de uma 3-bet 30% das vezes se nós só tivermos range de 4-bet.

Resumindo: as frequências que os 3-bets, 4-bets e 5-bets usados como blefes devem ser bem-sucedidos geralmente estarão nas seguintes porcentagens:

  • 3-bet blefes precisarão funcionar entre 67 e 70% das vezes para gerar um lucro imediato;
  • 4-bet blefes precisarão funcionar entre 54 e 60% das vezes para gerar um lucro imediato;
  • 5-bet blefes precisarão funcionar entre 40 e 50% das vezes para gerar um lucro imediato.

Então, apesar de cada blefe adicional se tornar significativamente mais caro (em termos de big blinds adicionadas ao pote), cada blefe precisa ser bem-sucedido com uma frequência menor que o anterior para ser lucrativo.

Se o vilão às vezes defende dando call ao invés de dar re-raise – e com frequência ele fará isso – nossos 3-bets e 4-bets não precisam funcionar tanto para serem lucrativos. Isso porque mesmo nossos blefes mais fracos darão sorte no flop.

Da mesma forma, podemos constatar o seguinte:

  • Raises pré-flop precisam defender 4-betando entre 25 e 30% das vezes se nunca nos defendermos dando call. Este número é mais baixo que deveria pois geralmente existem outros jogadores ainda a agir que podem ajudar a defender;
  • Ranges de 3-bet que nunca dão call quando enfrentando um 4-bet deverão 5-bet shovar entre 40 e 46% das vezes;
  • Ranges de 4-bet deverão dar call entre 50 e 60% das vezes quando enfrentando um 5-bet shove.

Essas frequências são importantes para se determinar a proporção entre raises por valor e raises por blefe em situações de 3-bet, 4-bet e 5-bet. Mesmo que essas frequências não nos digam exatamente quais mãos pertencem a quais ranges, elas nos permitem enxergar se um range está voltado de forma exagerada para value bets ou blefes.

Essa foi uma das planilhas que eu criei para entender o pré-flop

Olhe a data dos estudos!

Hoje em dia esse estudo está muito mais evoluído; já entendemos também que ranges não são sempre totalmente polarizados ou totalmente lineares, porque há algo chamado board coverage (necessidade de que seu leque de mãos cubra todos os boards), mas eu acho simplesmente fantástico esse raciocínio lógico de entender de onde vem as necessidades e as lógicas das relações matemáticas do Poker. 

Entendendo isso você entende DE ONDE VEM A LUCRATIVIDADE e o papel de cada tipo de mão na construção do seu range.

Tudo é baseado na defesa mínima; seu adversário não pode ganhar dinheiro simplesmente blefando. Isso é tão básico, mas ao mesmo tempo tão forte, que as pessoas até hoje se esquecem disso. E é claro, a recíproca também é verdadeira: se seu adversário não está blefando nunca, não há a necessidade de se preocupar com a defesa!

Eu fiquei uns dois meses estudando só isso, construindo e entendendo todas essas planilhas e isso me deu uma base de entendimento do jogo que eu uso até hoje!

Espero que você tenha gostado, e no próximo post falaremos sobre o que eu fiz depois disso.


Abraços,

Zinhão

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Minha newsletter semanal onde compartilho insights básicos, tanto para quem quer começar, quanto para quem já joga Poker. Dou conselhos de carreira e dicas para gerar renda através do jogo, assim como eu fiz. Meu objetivo é: te transformar em um jogador vencedor no Poker.​

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